2010 ficará assinalado na História portuguesa como o ano da crise do início deste século. Julgávamos - acreditando no que nos diziam os governantes – que os tempos difíceis vividos noutros países, não passaríam por aqui. Enganámo-nos.
2011 começou sob os piores augúrios e sacrifícios tais que há muito não sentíamos na pele.
Alguns, como os políticos da oposição e seus correligionários, culpam os governantes, enquanto estes atribuem à conjuntura externa e aos detentores do capital as causas da crise financeira; os industriais têm fortes quebras nas encomendas e encerram fábricas e empresas e centenas de milhar de trabalhadores ficam sem emprego e sem benefícios sociais; milhares de jovens que apostaram na formação profissional e académica, estão desempregados e os mais velhos cada vez mais se convencem que de nada vale a sua experiência profissional e de vida.
Famílias inteiras, defrontam-se com um quotidiano muito penoso que atinge os ativos e afecta também, e cada vez mais, idosos e reformados.
Pode ser esta uma visão pessimista da sociedade, mas nestes tempos de crise, é difícil ficar indiferentes a situações sociais gritantes. A vida que nos rodeia segue um caminho escorregadio e perigoso que, como já há meses afirmei, pode trazer grandes convulsões sociais e traumas humanos muito dolorosos.
Acredito, no entanto, que uma crise, qualquer crise, proporciona a alteração dos sistemas económicos, sociais e políticos e isso já está a acontecer.
Numa leitura superficial sobre o comportamento dos agentes económicos, nota-se existirem ainda alguns arautos e defensores de pequenos reajustamentos no sistema financeiro. Outros apostam até no rejuvenescimento do neo-liberalismo económico, nos benefícios insaciáveis do consumismo, na lei-suprema da concorrência, menosprezando os valores da dignidade humana, do direito ao trabalho e de um salário justo.
Este sistema iníquo, como começa alguém sabiamente o designou, não proporcionou, ao contrario do que se diz, um desenvolvimento harmónico e sustentado. Antes promoveu a luta de classes, aprofundou as diferenças sociais, agravou desigualdades gritantes e aumentou o número de excluídos e de famintos.
Este sistema desumano auto-destruíu-se e permanece moribundo porque não surgiram ainda líderes mundiais, académicos e empreendedores criativos que apontem, a uma só voz, um novo paradigma social e económico – uma nova ordem económica mundial.
Um novo sistema fundado na solidariedade, na concertação, na valorização da inteligência e não do dinheiro, na protecção do ambiente e da natureza, na produção apenas do necessário e no comércio regulado, na repartição dos bens materiais e culturais, recorrendo a uma correcta globalização e interdependência dos povos poderá ser uma utopia, mas é necessário e urgente.
Há um mundo novo em perspectiva, que já se começa a vislumbrar-se aqui e ali, em novas profissões, em novas indústrias ligadas à engenharia genética e informática, na reconstrução e preservação do património construído, na indústria automóvel e nos transportes, no incremento da agricultura biológica, na investigação e exploração dos recursos marinhos, no desenvolvimento das energias alternativas, no crescimento do turismo rural e de natureza, nas economias da saúde e da cultura, enfim... tantos sectores de actividade até agora desconhecidos ou pouco desenvolvidos em que assentará uma nova economia assente nas apetências e capacidades de cada um.
É para aí que vai o mundo. E não vale a pena resistir à modernidade. Quem assim procede, atrasa o progresso e a inovação e compromete o progresso dos países e dos povos.
2011 poderá conhecer convulsões sociais, dificuldades aparentemente insuperáveis. É sobre elas que se gera a necessária mudança para uma economia mais saudável, feita à medida “do homem todo e de todos os homens”.
Sejamos protagonistas activos e criativos da mudança que, acredito convictamente, construirá um mundo novo mais humano e solidário.
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